segunda-feira, 1 de julho de 2013

Estado Laico ou religioso? Ensino religioso??














Antes de mais nada, quero deixar claro que não sou a favor nem contra o envolvimento do estado com a religião. Mas sou a favor de as pessoas serem religiosas de verdade e não hipócritas. Fanático, eu? Não. Explico.

Toda conceituação humana vem basicamente de 4 polos:

1) Conhecimento popular não formalizado, ditados, habitos, lendas, práticas locais, usos.
2) Metodologia científica
3) Metodologias filosóficas
4) Religião.

A maioria destas acaba por se tornar verdade pela simples repetição, e raramente os humanos voltam a questionar a epistemologia que a gerou. De forma autoritária, todas elas se impõem em determinados grupos como verdades absolutas, assim como sua metologia de raciocínio e dedução da verdade. Dizer que é cético sobre isso é adotar uma verdade da filosofia, totalmente plausível.
Entretanto, o objetivo aqui não é dizer qual é a melhor delas, mas averiguar o seguinte: as tres primeiras são baseadas em argumentação, discurso, pesquisa, metologia, resultados e dados. 

Os dados ou conclusões, ou material acumulado (e este último é o princípio do item 1) acabam gerando um rol de informações, sabiamente, de natureza neutra e imparcial. Mesmo que a ciencia ou a filosofia tenham discursado sobre o certo, o bem, o bom, o mal, os vícios... o que é justo ou não, e o que é "correto", sabemos que isso são hipóteses, pois há o direito nestas linhas de conhecimento, de se questionar uma metodologia, esta ou aquela. 

Há portanto, neutralidade de conclusões, não se pode dizer que a filosofia ou a ciencia ou a cultura popular sejam boas, justas, corretas, amáveis... pois são um aglomerado de teorias as vezes dissonantes, como no caso da ciencia, e as vezes predominantemente dissonantes, como no caso da filosofia, ou uma colcha de retalhos, como no caso da cultura popular. Nenhuma delas se propõe a guiar o ser humano em direção a estes adjetivos.

Se existe uma única fonte que se esforça para sintetizar todos os adjetivos desejáveis com relação ao que se entende por justo, bom, correto, incorruptível, honesto, honroso, etc e dezenas de ajetivos que desejariamos que os nossos politicos tivessem, é a religião. Porém, é obvio que a religião não garante gente decente no governo, nem também se considera que qualquer religião é semelhante.

Estou falando aqui da religião que entra em acordo com os tais adjetivos desejáveis, no caso, em conformidade com a nossa cultura, o cristianismo, claro. Mesmo porque, não estamos falando da religião dos astecas, nem de magias e ocultismos que incluem sacrifícios, nem de religiões que simplificam na pena de morte a justiça, sendo isto completamente aceitável como por exemplo, cortas as mãos de um ladrão. Então, por favor perceba que as religiões são bem diferentes, e quando se diz Estado religioso, no Brasil, significa basicamente, Estado politico E cristão.

A corrupção da Santíssima Igreja medieval

A primeira coisa que citam é a corrupção da Igreja, como se isso fosse o que há de história da humanidade. Entretanto, antes do capitalismo, praticamente todos os reinos da existencia humana eram baseados em poder divino ou semi-divino, ou que os governantes diziam ser descendentes ou algum tipo de divindade, ou representantes de deus (em minusculo, pois é genérico). Estado laico é evolução? Talvez. 

Contra a hipótese de que a Igreja  religião foi a causa do caos medieval, incluindo-se queima de pessoas vivas acusadas de bruxaria, vamos notar que:

1) Igreja medieval não é sinonimo de religião, nem de cristianismo (que é outra coisa, para quem nunca estudou a bíblia)

2) O Estado não era religioso na Idade média, aliás nem existia exatamente Estado como nos moldes atuais, então já não serve de parametro. Haviam reinos, reis religiosos ou não, e a Igreja como instituição de poder paralelo e manipulador. E isso não quer dizer que a Igreja católica do período era boa ou ruim, haviam vários polos positivos e negativos, cf. a região ou grupo, e isso não quer dizer que o sistema de governo era de longe semelhante a um estado republicano religioso.

3) A Idade média foi um processo de imposição de interesses que usaram a religião como forma de poder em oportunismo contra o retrocesso causado pela queda do imperio romano, que aliás, era um estado escravagista, autoritário, exterminador de criminosos com pena de morte por crucifixão e outros métodos cruéis, ou seja, era um estado laico. E isso não significa que um estado laico seja assim ;). Além disso, os conflitos religiosos e de crenças pagãs que usavam de feitiçarias e outras práticas não católicas eram constantemente utilizados como argumento de domínio pela Igreja, e não pelo Estado. Esta última linha ficou clara? Memorizou? Não tem a ver com estado laico ou religioso. Tem a ver absolutamente com os hábitos da igreja católica do período.

4) O exemplo que as pessoas gostam de utilizar é basicamente relacionado a Igreja medieval, católica, no período absurdo em que ocorreram essas práticas, e nem de longe é o unico exemplo de combinação ou dissolução do estado e da religião (igreja como é usada só faz sentido no contexto católico!)

5) A história é longa, muito longa, e Pedro Alvares Cabral não veio parar aqui porque se perdeu no oceano, como ensinaram na escola. E o mundo não começou na época que dizem. Arqueologistas traçam culturas ha mais de 50 mil anos, super desenvolvidas, com tecnologias de perfuração com brocas de diamante, então vamos analisar a bíblia (porque todos os sítios arqueológicos encontrados que são relatados, foram confirmados com textos cuneiformes, hieroglifos, grego... então são histórias de reinos que existiram). Portanto, vamos pensar no exemplo registrado de Salomão e Davi, cujos reinos eram de dois "fanáticos religiosos", reis, e cujos registros bíblicos e arqueológico anotam o que fizeram de bom e de ruim, resumidamente. Portanto, não se trata de usar a idade média e a queima das bruxas ou a igreja católica como demonstração de falibilidade desse sistema, mas uma tendenciosidade momentanea.

Ensino religioso? 


As pessoas são incoerentes. Apoiam a liberdade de expressão, mas não se pode falar de religião. Rejeitam ensino religioso mas querem que seus filhos e familiares tenham "valores". Seria interessante que tivessem coerencia em seus discursos. Porque quem não apoia ensino religioso por exemplo, não deve ser contra sua filha de 12 anos transar com alguém de 40 se der vontade (homem ou mulher...). Nâo faz sentido. O único sentido é se isso for associado a valores religiosos pois a ciencia e a filosofia não neutralizam a sexualidade, nem a sensualidade, nem a obscenidade em público. Segundo estas, são apenas hábitos locais, de um povo, seus costumes. Já a cultura popular é local também. A cultura local do morro inclui e aprova o baile funk, sendo esta cultura jovem. A cultura mais idosa nao aprova. O instinto e a natureza permitem essas aglomerações, e hedonisticamente, são válidas. Certo?
Pois bem, ensino religioso, é uma coisa que parece não ter função direta, mas se é importante que se aprenda interpretação de texto, é importante que se tenha aulas de política, de ética, de filosofia, e porque não de religião ou teologia? Rejeitar uma área tão premente do conhecimento humano não passa de preconceito de mentalidades fechadas e anti-religiosas por natureza, tanto quanto as anti-filosóficas, anti-políticas, anti-culturais, das pessoas que desfilam armas e corpos na favela como demonstração de poder.

Não, eu não estou falando que estado laico e escola laica são sinonimos de putaria. Só estou dizendo que se você é a favor, deve calar a boca quando assistir espetáculos do tipo baile funk, com pessoas armadas. Afinal de contas, desfilar de metralhadora não significa que vai usar em alguém, certo? Nem que está invadindo sua privacidade emocional. É pura frescura sua.

Bastar ser correto e justo para se governar?

Entretanto, como foi analisado no começo desse post, estes conceitos são religiosos, pelo menos, no que tange a não terem sido selecionados ao acaso de um balaio teórico como a filosofia ou a cultura popular, ou a ciencia que não aplica isto como verdade (justiça e bondade para a ciencia é uma resposta química associada a bom desempenho genético da espécie, melhor dizendo, para o INDIVIDUO já que se aplica seleção natural para os mais espertos)

Não há como se esperar isso como premissa de um grupo de ateus, mesmo os de melhores intenções. Ah, me poupe de argumentar que NÂO estou dizendo que os ateus são ruins ou injustos ou isso ou aquilo, apenas que eles não tem uma motivação externa que não seja sua própria decisão momentanea baseada em julgamento subjetivo, do que é certo ou errado. São valores pessoais. Não existe a ciencia do ateu, ou a filosofia do ateu, que associe obrigação de ser bom ou justo ou correto a essa posição religiosa.

Por outro lado, é obrigatório ser justo, correto, bom, honroso, quando se trata de ser cristão, já que isso foi comentado lá em cima o porque de eu usar agora cristão para o caso. Além disso, é óbvio que o sujeito dizer que é cristão não garante que ele seja bom. Tanto quanto dizer que o estado laico será justo ou bom, não tem garantia nenhuma. Mas por isso eu desejaria que as pessoas fossem verdadeiramente religiosas, todas elas. E a consequencia seria um estado religioso, mesmo não anunciado. Porque se elas fossem verdadeiramente religiosas, verdadeiramente, seriam honestas e justas, (ah cacete nao estou falando que só os religiosos são honestos pqp!) mas se fossem verdadeiramente religiosas, teriam OBRIGAÇÃO de serem corretas, justas, verdadeiras, transparentes e boas. Seria ótimo não acha? Ou você prefere as coisas como estão, um governo entulhado de lixo espiritual, cheio de crentes, católicos, espíritas, macumbeiros, taoístas, seja la o que for, que se dizem mas não são verdadeiramente? 

Casado(a), mas prefere o Estado Laico porque diz que é politizado.

Casado(a) na igreja católica, de véu e grinalda. Aceitou a autoridade da igreja para definir sua comunhão, sua união, jurou e fez promessas. Gastou fortunas na igreja com a festa, o padre, os convidados, o arroz, as flores, o carro, a lua de mel... mas prefere o estado Laico porque acha que administração, governo, autoridade não tem nada a ver com religião... Mas em seu próprio lar é absolutamente Estado religioso... (isso supondo-se que se casaram e praticam a religião em que casaram...)

É interessante como a maioria das pessoas adota e discursa em microescala a sua religiosidade e sua postura decorosa, mas quando se trata de governo, acredita que é dissociável. Até que ponto? Se as pessoas fossem assim tão livres dessa mistura polemica, seria coerente mas a verdade é que a maioria das pessoas é religiosa, acredita em alguma coisa, e acha que o outro tem obrigação de acreditar também. Mas quando se trata de mídia e Estado, a coisa muda. Poucos são a favor, especialmente para fazer média entre os outros e "pagar" de politizado independente. Pura hipocrisia.
Sejamos coerentes, e saibamos de onde vem nossos valores. Se você é contra o Estado laico, não deve ser contra a pena de morte, o aborto, a pornografia, e qualquer coisa cujo único argumento que existe verdadeiramente contra é de base religiosa. Poderia ser a favor, neutro, mas não contra, pois além da religião, não há justificativa contra a morte e o aborto ou a erotização precoce. No final das contas, todo e qualquer argumento que se arraste, é no final, de base religiosa.



Notas:
a) "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus". Aplicou-se a tributos, e não a posição do governo, que já era laico. Aliáaas.... César se considerava um deus haha.
b) O governo de César era laico. E foi ele quem crucificou Cristo. Os gregos e romanos são os fundadores da filosofia ocidental, entretanto, há na filosofia ocidental diversos autores extremamente religiosos, e portanto, coloca em pé de igualdade ou indiferença ser ou não religioso para a avaliação da qualidade "pensadora" do individuo.
c) Che Guevara e Fidel Castro eram ateus, o Estado cubano laico, autoritario, assassino, e se autodenomina comunista. Entretanto, me parece que isso não é comunismo. E não me parece que todo estado laico seria assim. Mas é irritante escutar que o estado medieval era religioso na europa.

Adoro uma polemica :)