segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Estátua da liberdade em Bauru

Bom, essa é a nova polemica. Esse blog foi criado para isso mesmo: mastigar polemicas, coisa que me diverte. A nova polemica é a horrorosa e linda estátua da liberdade enfiada em uma das entradas da cidade. Muita gente gostou, muita gente odiou. Fizeram um abaixo assinado para remoção da pobre infeliz, com mais de 1000 assinaturas. As opiniões se dividem. Vejamos os prós e os contras...

PROS

1-Uma nova loja na tão sofrida e mal administrada cidade de Bauru. Onde a politica fiscal e a mão de obra sofrivel afugenta todas as empresas para regiões próximas ou distantes. Não importa os detalhes: todo mundo fica desesperado, mesmo porque nao há muito onde se trabalhar aqui, se bem que a maioria não goste muito de trabalhar em Bauru (digo isso por experiencia no meu dia a dia, que é diferente do seu, com outro tipo de gente....) Numa cidade tão pobre de politicas, onde só se ganha dinheiro com especulação imobiliária, com piramides, com serviços onde os profissionais se pegam no tapa por um cm2, num lugar que se formou como eixo de passagem e serviços e não de fixação (quando não haviam ainda desmontado propositalmente a ferroviária bauruense polo de 3 conexões e toda a malha brasileira) então é compreensível: é como passar com capim verde na frente de uma boiada que só come feno. Não que o feno seja ruim, não quero ofender o gado. Mas ca entre nós, muitas empresas poderiam ocupar o local.

2- O local era um terreno baldio cheio de placas de concreto sujo, foco de dengue (onde? só havia mato ali, não baldes e pneus com água!!! e ninguém passava ali perto a pé...)
Era uma visão horrível mas até aí, todo trevo de pista é horrível deserto e meio abandonado mesmo. Não costuma ser um local de interesse urbano, social, comercial ou residencial. Isso é louvável: a empresa se instalou ali, dando vida à cidade. Um pouco além do que gostariam alguns...

3) A cidade vai ficar famosa. Já está até aparecendo na Folha de São Paulo com a divulgação do passado Enyano, famoso no Brasil inteiro, graças aos políticos. E novamente. Além de uma torre Eiffel na ITE (é uma faculdade de Bauru, para quem não conhece a cidade) tinhamos o filhotinho da Eiffel na Av. Nossa Senhora de Fátima, e um Cristo Redentor na Comendador José da Silva Martha. Temos também uma quase réplica da ópera de Sydney projetada por Jurandyr Bueno para solucionar o pantano que era ali (Pq. Vitória Régia), e temos um Borba Gato Sanduíche de fibra de vidro de 3m de altura na Rodoviária recepcionando os turistas, mostrando para que a cidade veio ao mundo. Tinhamos também uma cópia de Stonehange, mas foi trnasformada num horrível viaduto que vai funcionar, graças a Deus. Tinhamos o lanchódromo, o maior parque de barracas de sanduíche do mundo da america, digo, de Bauru, mas não existe mais, graças a Deus foi construído um Instituto Branemark ali.

4) A cidade receberá uma enorme fonte de consumo e exportação de capital fonte de renda. Ali você poderá trabalhar e gerar riqueza que vai para fora da para a cidade. Apesar de haver o parque industrial, e divesos subsídios para o crescimento baseado na industria e produção de riqueza real, a característica de polo de consumo e evasão de recursos continua sendo a marca da cidade, um símbolo de liberdade do capital.

5) Os milhares de turistas que a partir de agora virão  chegam na cidade tomam um choque visual e ficam super eufóricos, e acabam consumindo mais na cidade inteira.

6) Os moradores da cidade poderão se gabar da cidade nas cidadezinhas menores do entorno do centro oeste paulista. Praticamente uma Miami do cerrado.

7) Você jamais precisará ir para Nova York apreciar a verdadeira Estatua da Liberdade, com toda a sua história real e imaginária, e poderá sentir o gostinho dela aqui mesmo. Com a vantagem de que ela é mais colorida que a original e mais acessível.

8) Você jamais em hipótese alguma se esquecerá da loja Havan, e menos ainda de sua localização, caso tenha algum tipo de disturbio ou disfunção com relação a localização e avaliação de empresas, sua localização no mapa, sua cara, etc.

9) Estamos nos tornando uma cidade sulista. Espero que fique mais frio o ano inteiro também.

CONTRAS

1) Você acabará tendo que falar ingles agora. Não se pode viver numa cidade que está sendo colonizada pelo Tio Sam sem falar ingles, que apesar de ser um idioma britanico, os analfabetos fundionais muita gente pensa que é dos EUA.

2) Você será confundido com americanos. Engordará, passará a comer hamburguer e gostar de futebol americano, baseball, streeptease, mascotes felpudos, carros que explodem, aviões de guerra e astronautas (Isso ja temos um!!!). A única desvantagem é que terá que adquirir os hábitos deles, com relação a relacionamentos. Mas não são muito diferentes dos nossos. Aliás, ouvi dizer que são identicos.

3) Poderá sofrer acidente na entrada da cidade, pois a estatua chama tanta atenção por sua beleza reprisável ao infinito que os homens baterão no guardrail como se houvesse ali uma passeata das vadias, mas todas lindas.

4) Corre-se o risco de sofrermos atentado com aviões muçulmanos.

5) Vão achar que você é um idiota também por morar numa cidade que tem uma cara tão idiota. Seria como ser obrigado a usar um botom com a bandeira dos EUA pro resto da sua vida, enquanto morar aqui ou disser que morou aqui.

6) Vai ter que aceitar essa aberração de referencia urbana que seria o mesmo que encher de pimenta maionese e catchup, uma fatia de queijo frescal e ter que devora-la sentindo cheiro de pinho sol num restaurante pintado de verde piscina inteiro por dentro e por fora, com cadeiras listradas de roxo e amarelo.

7) Vai ter que conviver com uma escultura que consegue ser maior que muita coisa dessa pequena cidade de investimentos permanentes, e que portanto, demonstra claramente o quanto a cidade é caipira e fechada para novas POLITICAS DE INVESTIMENTOS. Já que hoje em dia não há razão em se falar de mentalidade fechada ou preconceituosa para mais nada. Não é mesmo?

8) Vai ser tachado de mentalidade pequena se não aceitar isso. Porque É NATURAL DOS INTELIGENTES ACEITAR QUALQUER COISA. Ou não.

CONCLUSÕES

Após densa análise científica, fengshuiana, astrológica, metabólica, quimica, sistemica e estrutural do caso, chegamos a algumas evidencias, verdades, axiomas...

1) O simbolo da empresa não é de bom gosto, na verdade. Muita gente gosta, mas não é de bom gosto. É um simbolo (e nao logotipo), que é uma aberração, palavra que vem de "berro" ou coisa que grita ou faz gritar, o que é o caso mesmo. Em termos de marketing, é de violencia visual clara: distoa da paisagem, do contexto, é egoísta e apelativo. Te obriga, enfia goela adentro sua imagem. Chama a atenção muito mais do que o necessário. É um ícone populesco, desgastado, cafona, brega, kitsch (veja o que é kitsch no google por favor). Não tem sofisticação, não tem educação, não tem moderação. Como tudo que se atribui a pobreza cultural, é em excesso e fala alto demais, é grosseiro e uma cópia.

2) Em termos artísticos, não há muito o que comentar, é a contramão de tudo o que se possa considerar arte ou arquitetura, ou que se diga, arquitetura do simulacro, bem definida por Otilia Arantes, É pior que funky business. Não está no nível do marketing de guerra ou de guerrilha: está no nível do marketing do estupro. Não tem diálogo com a cidade, e arte e arquitetura, são consistentes e de QUALIDADE quando consideram o entorno, o público, o ritmo, o fluxo, a vibração do local. É como um Jim Carrey entrando num filme do Tarantino economista.

3) Sim, vai atrair novos investimentos, gerar empregos, etc. Mas, vamos considerar que a evasão de empresas não é por causa de abaixo assinados. Isso seria ridículo. A evasão é por outros motivos, os quais não faço idéia de quais sejam, mas isso não muda o fato de que não é por abaixo assinado contra estatuas da liberdade. Além disso, argumento não se aplica pois quem tem interesse é a empresa, já que vai ter lucro, obviamente, e o lucro vai PARA FORA DE BAURU. Então, muita calma antes de ficar desesperado por causa de empresa nova, já que poderia ser uma empresa da cidade também. Mas poderia ser um CHINESA e levar as divisas para bem longe também. Alguém aí sabe de onde é o dono do Havan???


4) O terreno é da empresa mas a cidade não é deles. Outdoors, placas, letreiros, luminosos, poluição sonora, pixações, ocupação de áreas publicas, todo e qualquer elemento que constitua interferencia na vida social é passível de revisão, e não existe isso de o terreno é dele e ele faz o que ele quiser. Vamos partir para um exemplo bem ignorante, senão nao entra na cabeça dos defensores da liberdade acima de tudo: Se o seu vizinho plantar um tronco em forma de penis ereto de 6 m de altura e escrever o seu nome nele, você vai desejar que ele remova ou não? Vamos supor que não seja o seu caso gostar de penis de 6m de altura. Voce provavelmente, apesar de ter um nome COMUM, argumentar a coincidencia dos fatos e buscar seus direitos até que ele remova o tal monumento falico. E onde está o direito privado???? Ele também resguarda sua vida, mesmo que a ofensa venha de um lote do outro lado da cidade.

5) Se chegou ao ponto de muitas pessoas assinarem o abaixo assinado e de gerar tamanha discussão, não se pode pensar que realmente pode ter alguma coisa errada no caso além do direito do proprietário berrar muito alto para que você o veja???

6) Sobre a iconologia da estátua, teorias conspiratórias, socialismo capitalismo e comunismo, brasilidade, iluminatti, ovnis, chupa cabras, terra oca, egito, pendulos de cristal, mumias de aliens e tudo mais, não vamos entrar no mérito da questão. É claro que pode significar mil coisas idiotas, eu acho que significa apenas mal gosto e estupro publicitário. O que  particularmente me constrange, por estar morando em Bauru. Mas o rio da nações constrange, o pátio abandonado constrange, mais uma lista enorme constrange. E porque elas estão aí damos o direito de novas coisas incomodarem? Ou porque novas coisas incomodam nos esquecemos das mazelas atuais? Não nasci em Bauru. Não sou ufanista, nem puxa saco de lugar algum. Vejo de fora, como urbanista, como estudante de mídias e marketing, publicidade, linguagem e comunicação. E realmente, a empresa poderia ter tido a dignidade de ter uma identidade própria e muito mais bonita que essa cópia barata. Poderia ser maior, mair chamativa, mas que fosse original pelo menos.





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