sexta-feira, 3 de junho de 2011

4-O emo-cional


Pois bem.

Ontem fui trocar um tênis e fiquei ali passando mal lembrando de toooodo o desenrolar dos tenis desde o kichute e bamba, passando pelos revolucionários nikes air, os new balance, asics, rainha (para volei, coisa da minha geração...) botinhas de camurça e solado de latex (coisa de quem achava que era surfista...) e quando vi estava ali, cogitando retomar alguns anos perdidos de nova adolescência, observando um tenis quase de emo, não quadriculado - jamais - mas colorido o suficiente pra eu me sentir muito, muito deslocado. Seria só pra ir na academia. Mas deu vergonha... tá, sou meio velho, uso tenis preto, coturno, bota de couro, prefiro uma de cowboy a uma de emo. Mas enfim...

Essa busca pela jovialidade que permeia a todos, ou quase todos, ficou ali me rondando. Eu poderia ter pego um desses, meio verde com detalhes em verde limão e faixas brancas e laranja... essas coisas...

A chave desse negócio todo é a transferencia da sensação, da inserção no universo do Outro. Psicanálise atormentada...


É impossível, definitivamente, sentir o que o teen de hoje sente. Nem quero, tenho certeza que sinto coisas mais interessantes desde o Karate-kid original até o cyberpunk de Blade Runner e Matrix. Deve ser por isso que eu adoro usar coturno todo destruído. Combatente, urbano, guerreiro e caçador. Essa coisa que começou a entrar com a história de Esparta no colegial, com os filmes de ninjas, os filmes do Van Damme, comandos em ação, essa coiserada toda da minha época, tão militar... que de japones, tem muito. Predisposição a aceitar o que é bom de cada grupo. E tome livro também, certo?


Sobre os emos de hoje, essa geração que muitos de nós (ex-punks por fora, eternos punks por dentro) desprezam completamente por ser uma geração fraca, mole, frágil, emocionalmente despreparada, mimada e perturbada sexualmente. Não, não estou falando mal de gays, nada contra, nem entro no mérito da questão. Só estou achando, daqui do meu quadradinho, que essa geração é fraquíssima.


Essa coisa de emo é uma fusão de certas coisas... meio que sem distinção ou fronteiras claras:

-Ideologia vazia por esgotamento das anteriores
- Homosexualismo como última forma de contestação de algo que é indistinguível, intangível, invisível, imanipulável.

É uma coisinha de marketing, uma coisinha como dizem, eclética. É como aquela moda de roupas femininas com tecidos retalhados - perfeito para a indústria desovar sobras menores de materia prima a custo de matrial nobre. É como sabonete cheio de picadinhos, é como salgadinhos mesclados - tudo sobra da indústria. Mas no caso da cultura, uma vez que não há muito o que se criar que possa ser absorvido por qualquer idiota, cria-se a cultura quase hermafrodita emo, passiva, colorida, infantil e sem definição sexual, frágil (filhos de pais criados na primeira onda de liberalismo e traumatizados pela frustração tando da ditadura quando da cultura livre).

O inimigo agora não existe: ele se infiltrou, transou com os seus, forjou descendentes e é parte da família. Nesse cenário cultural pós capitalismo industrial, pós inicio do capitalismo financeiro, o liberalismo busca através do esvaziamento conceitual, da dissolução das fronteiras e de todas as formas de definição consistente, enfraquecer os pontos inteligíveis que poderiam ser a origem de uma barreira, de uma resistencia cultural. Todos ficaram perplexos com a neutralização das ideologias anteriores. Todos ficaram com vergonha porque elas eram apenas mais uma onda, e não uma tendencia. E calados, aceitam tudo agora e cada um quer ganhar o seu, ou não largar o osso antigo.


O problema fomentado pelas leis educacionais onde o aluno não pode ser repreendido, nem reprovar de ano, e outros absurdos, foi o selo sobre uma manipulação visível, mas consentida, por interesse de todos os preguiçosos e indisciplinados, fracos de caráter (sim, é tudo questão de caráter conceder ou não esses direitos) que permitiram essa construção social tão infame. O interessante é que isso embora seja ridículo, fraco e venenoso, deverá em breve criar uma geração anti-emo, de teens atrozes, violentos, insensíveis, combatentes e extremamente heterosexuais, com ideologias muito definidas, fortes (seja lá quais forem elas) e penetrantes, incisivas, irônicas, sarcásticas. Serão provavelmente, ácidos e provocadores. Aguentarão porrada, será a geração cyberpunk renascida, na época propícia, e a onda de design clean, light, ecológico, será rapidamente superado pelo design pesado e petrolífero, steam punk, metálico cru.


Nenhum comentário:

Postar um comentário